COMO FOI SEU ANO NOVO?
Conto
NOZIEL ANTONIO PEDROSO
26/dezembro/2007
F 0 I A S S I M. Vá escutando... No dia 31 eu acordei com uma baita dúvida. Aonde será que vou passar o Ano Novo? Na casa da parentada ou lá no meu amigo Renato? Ai, sabe como é, né? Os parentes quando se juntam dificilmente não sai uma desavençazinha, um arranca-rabo, um atrito. É um falando do defeito do outro, como se ele não tivesse defeito... É aquela criançada correndo ao redor da mesa, brincando de pega pega. Haja saco pra agüentar aquele alarido todo. É sobrinho adolescente com aquela nojeira de conferir mensagenzinha da namoradinha no celular... É irmão ou primo com aquela repugnante indiscrição de ficar filmando (também do celular) a gente - escondido - pra depois se divertir com as cenas indiscretas... Aí pensei, pensei, pensei... Vá escutando... Resolvi: vou passar na casa do meu amigo, afinal as filhas já são adultas e só tem a Julinha de criança, uma menininha de 7 anos, que é um amor. Aí, aproveitando que eu levantei cedo, fui fazer café. Enchi a chaleira de água e acendi o fogo. E cadê o coador? Vai eu procurar o coador, tive que quase desmontar o móvel de guardar apetrechos de cozinha. Finalmente encontrei o coador. E a água que não fervia nunca? E tá lá eu, esperando a água ferver, e espera, espera, espera... Finalmente a água começou a ferver... Vá escutando... Aí passei o café. Não é que o coador escapou da plataforma de assento? Puta merda, derrubou tudo, o pó se esparramou em cima da pia, uma zoeira danada, rapaz, misturou pó com café já coado, quase queimei a mão com a água fervente. Tive que fazer tudo de novo. Aí o café ficou um pouco forte. Aí vai eu procurar pão, bolacha, alguma coisa para acompanhar o café. E nada. E agora?
Ah, já sei, vou comprar pão. Aí fui na garagem para funcionar o carro. E o motor que não pega? Fiquei tentando, tentando... E mais uma vez... e nada..,. Será que era o platinado? Ou era o fio solto da bobina? Fui dar uma olhada no motor. Ou seria a vela de ignição? Rapaz, fiquei numa dúvida desgraçada. Como eu não entendo nada de mecânica, fui chamar o meu amigo Walter Catarina, que tem uma oficina perto de casa. E cadê que eu acho o Walter? Cheguei pro filho dele e perguntei: Aonde está seu pai? Ele respondeu assim: papai foi socorrer um motorista lá pras bandas do Grotão do Bento Amaral. Ele vai demorar... Ai meu Deus, meu carro não quer pegar. Será que o Irineu está em casa? Ele pode me quebrar o galho. Vá escutando... Aí fui atrás do Irineu e por sorte consegui encontrá-lo. Aí ele foi comigo até em casa e abriu o capô do carro. E procura defeito daqui, procura dali. Após ajeitar um pouco aquele emaranhado de peças juntas, brada: Vai, tenta dar a partida. E lá foi eu tentar de novo. Nada. Ah, já sei qual o defeito: é no distribuidor. Com essa peça aqui solta, a corrente não passa para o jogo de velas, entendeu? Não.
Olha, o distribuidor tem uma função importante no processo de distribuição de corrente elétrica. Por isso ele tem esse nome. Tem ainda, o platinado, o alternador, todos eles trabalham conjuntamente para que funcione o sistema elétrico do carro. Falei assim pra ele: ô valeu, hein Irineu...
Bem, aí fui comprar o pão, lá na padaria do Nilão. Ih, esse Nilão tá tão gordo, que nem te conto. Não se sabe se ele está andando ou rolando. Falei pra ele que é preciso maneirar na comida, que senão já já ele vira rolha de poço. Bem, voltando ao assunto, aí fiquei em dúvida, se levava pão doce, pão de queijo ou pão francês. Aí, sabe o que fiz? Levei os três.
Sabe quem eu encontrei lá na padaria? O Haroldo Pacheco, lembra do Haroldo? Aquele que casou com a filha do Antenor do Bode? Ah, mas ele tá muito bem. Você não imagina o que ele contou. Que lá onde ele estava morando montou um restaurante e uma casa de congelados. Tá com dois filhos já grandes, o mais velho tá um baita mocetão.
Mas voltando ao assunto, aí quando estava voltando para casa com os pães, me fura o pneu do carro, rapaz. E cadê o macaco? Tive que tirar o estepe, o tapete, tudo, pra procurar esse bendito macaco. E não achei. Foi aí que lembrei que eu tinha emprestado para o Jurandir, aquele que trabalha no Posto do Martins. Vá escutando... e lá vai eu atrás do Jurandir. E cadê que eu acho o Jurandir! Ele estava viajando com o carro e levou o meu macaco. E aquele macaco era hidráulico, rapaz! Pode um negócio desse?
Aí tive que correr atrás de um macaco emprestado. Lembra do Carlão, enteado da vizinha do cunhado do Tião Guarda? Pois, foi ele que me socorreu, imagine só.
Aí fui até onde estava o carro para trocar o pneu. E cadê que eu consigo virar a chave de roda? Aquilo estava duro, não havia cristão que conseguisse virar aquela chave. Eu estava até suando. Tive que correr até em casa para pegar uma marreta. E cadê que eu acho a marreta? Meu irmão havia emprestado para o João da Vitória, lembra dele? Ele andou tendo uns problemas lá na terra da mulher dele. Parece que andou metido com uns caras da pesada, parece que era uns caras que mexem com erva e pó. Como esse negócio dá dinheiro, hein? Tem gente aí montando um império. Aí fui atrás do João, claro. Encontrei ele em casa, mas a marreta estava lá na oficina do Tibico. Vá escutando... Aí descamba nós atrás do Tibico. A oficina estava fechada, em casa ele não estava. Aí um vizinho falou que talvez ele tivesse no boteco do Otaviano. Não deu outra. Lá estava Tibico enchendo a cara, com o Zé Gordo e o Joca Cascudo. Ih, não sei não, mas o cara tá bebendo muito. Aquilo não era hora pra beber, não. Você já ouviu falar que a mulher dele anda ciscando fora do terreiro? Parece que ele arranjou um sócio de alcova. Também, né, o cara só pensa em jogar bilhar e esvaziar garrafa. E a mulher dele não é de se jogar fora, não. Tá bonitona, vistosona, anda metida nuns vestidos assim, decotados, que só vendo. Dizem até que ela usa só fio dental. E a mulher tá largadona por aí. Ainda mais que ultimamente ela está andando muito com Ritinha Zero Hora e Gracinha Chuleta. Não sei, não, onde há fumaça há fogo. Por falar em fogo, você ficou sabendo que pegou fogo no galpão do italiano? Foi um puta bafafá. Não sei não, mas depois que o italiano praticamente grilou aquele pedaço de terra da família Gaudêncio, lá no Morro do Cospe Fogo, que ele não vem dormindo direito! Dizem as más línguas, longe de mim ficar falando mal dos outros, que foi o Josias e o Zaqueu, junto com o Tiãozinho Calado. Olha, bico de siri, hein...
Mas voltando ao assunto, quase fiquei sem a marreta, Tibico estava já mais pra lá do que pra cá. Depois de todo esse esforço consegui, com a ajuda do Carneiro, tirar a roda do carro para trocar. Mas a hora que fui pegar o estepe, você não vai acreditar: o estepe estava murcho. Aí tive que levar o pneu até o Beto Borracheiro para consertar. Rapaz, foi um trabalhão desgraçado mas finalmente consegui colocar o pneu no carro.
Aí fui pra casa, até quase perdi a vontade de tomar café. Mas sabe como é, né? Saco vazio não pára em pé. Assim que tomei café fui arrumar as coisas para passar o fim de ano lá na cabana do Renato. Você precisa conhecer lá, rapaz. É uma casa pequena, isolada. Tem um baita terreirão, todo de areia. Do lado tem uma árvore que dá uma bela sombra. O bom é que lá venta muito, por causa da proximidade com o mar. Vá escutando... De vez em quando Renato e seu compadre de São Paulo, o Tibúrcio, pegam a rede e vão pescar na praia. Cá entre nós, nunca pegam nada, é só pra perder tempo. Outro dia o Tibúrcio quase se afogou, caiu numa queda d’água e se não fosse o Alfredão, um conhecido que mora por lá, ter socorrido o homem, ele já tinha partido dessa pra melhor.
Aí ficamos na casa bebendo e batendo papo até chegar meia-noite. E essa meia-noite que não chega... e nós esperando, esperando o momento de abrir o champagne. Demorou mas chegou. E o champagne que não abre? Quase esfolei meu polegar naquela tampa que é maior que o buraco. Já reparou que a tampa é uma baita rodela maior que o orifício da garrafa? Reparei isso quando fui a uma festa na casa de um primo, que na verdade é enteado de uma prima minha que mora lá no interior, a Rosinha. Bem, aí deu a hora, confraternizamo-nos todos e fomos para a rua ver os fogos de artifício. Rapaz, cada clarão bonito, tinha um que parecia uma cascata de pedras preciosas, cada uma de uma cor...
Encontramos por lá com uns conhecidos, que foram...Bem, pra encurtar a história, voltei à cabana e estourei um outro champagne, um de cor rosa, que comprei porque achei bonito. Cara. Uma delícia, tomei até a última gota...
CHEGA, já não agüento mais suas histórias sem fim!
Pode continuar falando aí, sem parar, que eu vou nessa...
Puxa, cara mal educado, pergunta como foi meu Ano Novo e vai embora sem ouvir. Cada uma que me acontece...
segunda-feira, 13 de julho de 2009
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