ZERO À ESQUERDA
Conto
NOZIEL ANTONIO PEDROSO
Novembro de 2006
(Texto analítico sobre o comportamento de pessoas excluídas dos meios sociais, no trabalho, no clube, nas esquinas, nas rodinhas, nas festas e, em tudo, em geral)
À primeira vista, o título pode parecer pejorativo, depreciativo, desrespeitoso, provocativo, desprezivo, enfim uma porrada de coisas mais, que signifiquem bancarrota. Mas, ao analisarmos o contexto sob o prisma da ótica da inteligência, da percepção, tal codinome - por mais que pareça ofensivo - transporta-nos para, digamos, um universo mais tranquilo, que incontinenti conota-se como isenção de responsabilidade.
Por mais que o apelidado possa esboçar algum resquício de inteligência, Q.I. acima da média, raciocínio rápido e preciso, capacidade de conciliação, ele é sempre mal visto e, por conseguinte, evitado e mais desprezado que nem cueca em lua de mel. Mas, atenção ZEROS Á ESQUERDA, nem tudo está perdido. Eis que surge, ainda que de maneira ínfima, de forma exígua, uma minúscula visão de, pelo menos um pontinho positivo. Não vão pensar que é alguma pontinha de esperança, porque isso não existe, pois o zero à esquerda é que nem cego em terra de olhudos.
SAIBA TIRAR PROVEITO.
O Zero à Esquerda, como geralmente é desprezado e posto de lado, jamais poderá ser cobrado de forma efetiva e com veemência, não é verdade? Se ele não fizer o serviço de forma correta, isto é, se fizer cagada em cima (pode ser também debaixo, de lado, de fianco, pelas laterais) de cagada, ninguém poderá cobrá-lo, afinal quem é ele? E outra vantagem: o zero à esquerda é tão ignorado que ele pode tranquilamente fazer suas falcatruas, que não será denunciado . Denunciar a quem? Ele é e sempre será considerado um grande merda, A AMEBA DESPREZÍVEL QUE INSERIU-SE NO VERME, QUE ENCONTRA-SE NAS ENTRANHAS DO MOSQUITO QUE VAI SOBREVOAR O COCÔ DO CAVALO MANCO DO BANDIDO. Quem se importa com um tipo assim? É que nem cueca: Só fica por baixo e quando aparece dá vexame.
ENFRENTE DE CABEÇA ERGUIDA.
Mas, como tudo tem o reverso, o zero à esquerda sofre quando o assunto é festa, confraternização, amigo secreto, essas coisas. O cara é deixado de lado, porque ninguém quer correr o risco de sortear o nome do incauto. O zero à esquerda é invisível, ninguém consegue enxergar o cara. É tido e mantido pelos outros como um tipo insuportável, um grande goiabão, insosso, um filho da puta, um babaca, energúmeno, boçal, mentecapto, e por aí vai. Por conta dessa condição, passa despercebido em todas as camadas, inclusive as do bolo, da sociedade, da neve, do cimento, do caralho a quatro.
0 zero à esquerda leva desvantagem também na área gastronômica. Em festas, todos se empaturram de churrasco, maionese, farofa, numa comilança sem igual. Mas ao zero à esquerda, nada. Ninguém dá comida pro coitado. Como ninguém o vê, para poder oferecer algo, ele tem que se virar senão fica de barriga vazia.
O sujeito que todos desprezam e, sequer fazem questão de esconder essa condição, é um indivíduo que ninguém gosta e é sempre chacoteado por todos nas rodinhas. Na maioria das vezes, é um cara chato às pampas. Claro, imagine, pra chegar a esse ponto. Geralmente é do tipo que nunca está contente com nada, que torce o nariz para as convenções e tudo que o circunda é de má qualidade, primitivo, sempre aquém do esperado por ele. Mas o zero à esquerda, geralmente tem forte personalidade, e tem lá suas razões. O que fazer se ele vive fora de seu eixo? Como fazer com que o mundo adapte-se a ele? Ele que se foda, e trate de adaptar-se ao mundo, porque o mundo (na verdade, ninguém) não está nem aí pra ele, está cagando e andando pra seus enjoamentos. Ah, não gosta disso, não gosta daquilo? Então, que vá tomar no cu. Vá á puta que o pariu, quem mandou ser nojento assim? Aqui você não tem vez, vai procurar o caminhão daonde você caiu, veado. Ninguém aqui quer saber de você.
Não obstante seja, às vezes, considerado um reacionário, Zero a Esquerda tem lá suas ideologias, seu modo peculiar de pensar e agir, sem influência de quem quer que seja.
A VINGANÇA
Porém, numa coisa o zero à esquerda tem destreza e possui uma qualidade fora de série, que até passa despercebida por todos, porque todos fazem questão de sequer reparar que o zero à esquerda existe e encontra-se ali ocupando um espaço no universo. Ele é detentor de uma percepção acima do normal, e quase nada à sua volta escapa de suas lentes captadoras. Possui raciocínio rápido e numa passada de olhos abrange tudo. Tem grande poder de convergência e num simples lampejo consegue inserir-se no contexto sem que ninguém aperceba-se disso. Muitas vezes quando ouve algum comentário em uma rodinha, ou um determinado assunto, ele já está mais que por dentro da jogada, enquanto os outros ainda estão queimando as pestanas para entender ou decifrar. Não raras vezes o assunto que pipoca ao redor está mais do que distorcido e equivocado. Zero à Esquerda tem uma ampla visão e enxerga de forma nítida o que ainda não aconteceu. Assim sendo ri por dentro da ignorância generalizada que desenvolve-se à sua volta. Ele não fala nada, pois ninguém quer saber de falar com ele, porque, é claro, é considerado um zero à esquerda, um grande bosta, um cu de cachorro. Dissertando-se, outrossim, sobre esse orifício corrugado que localiza-se na, por assim dizer, parte central da região glútea, e nesse animal quadrúpede, mamífero e carnívoro, diz-se que um zero à esquerda falando e um cachorro cagando, a segunda opção é, de longe, sempre a mais apreciada.
Quando, às vezes, o zero à esquerda está só em determinado local, quando perguntam se tem alguém ali, todos respondem: Não, não tem ninguém aqui, não. O local está vazio.
Mas o zero à esquerda - na maioria das vezes - também não está ligando pra merda. Faz e acontece, a seu modo e ninguém, por mais que as tentativas sejam exaustivas, consegue, de todo, fazê-lo sentir-se um merda, em toda a extensão da palavra. Está deitando e rolando com o que pensam a seu respeito e acha todos uns babacas, incapazes de olharem pro próprio umbigo. Alguns têm como lema aquele velho ditado, que usa-se sempre pra se dar uma pontadinha em alguém, de forma enfática e contundente: DUAS COISAS ATRAPALHAM A SOCIEDADE: O CÔRO DOS INVEJOSOS E O CORDÃO DOS PUXA-SACOS. Quer mais é que tudo se foda. Ele tem suas convicções e valores, e na sua própria avaliação até que dá pro gasto. O resto é coisa de quem está com a piscina cheia de ratos e idéias que não correspondem aos fatos, como já disse Agenor Araújo Neto, nos anos 80.
Registro-SP, 17 de Novembro de 2006. Eu___________Noziel Antonio Pedroso, analista de comportamento humano e observador inveterado, o redigi, digitei e imprimi. Agora, pare e reflita bem, após tudo que leu: Você é um zero a esquerda?
sexta-feira, 12 de junho de 2009
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