VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR
Conto:
NOZIEL ANTONIO PEDROSO
06 de Janeiro de 2009
Você soube que o Nélio esteve aqui neste feriado? O quê? E o filho da mãe nem pra dar um alô pra gente? Como diria meu pai, mas que gramputa! E tem mais, sabe aquele irmão dele que foi embora lá pro Sul há uns dez anos? Também esteve por aqui. Mas como ele tá diferente, rapaz. Se você olhar assim, de cara, não vai nem reconhecê-lo. Ele tá que nem um capado, de tão gordo. E sabe quem estava com ele lá no Monte Silveira? 0 Jorge da Quiquita. Ele até que enfim colocou dentadura. O quê? O bicho tá irreconhecível... Tá mordendo que só vendo. Agora tudo quanto é coisa ele quer morder. Não sossega o maxilar um minuto. Imagina que ele quer morder até o... o... Ah, não acredito, até isso? É, com certeza quer tirar o atraso, afinal desde quando ele é assim, desdentado? Olha, rapaz, desde que o Brasil era ainda tricampeão do Mundo. Porra, mas isso faz um bocado de tempo hein? Quanto torresmo pintou de lá pra cá, quanta rapadura já não deu sopa nesse período...
Mas, mudando de pato pra pinto, sem querer fazer trocadilho, sabe quem tá embuchada? a Solange, filha da Maria Pintada. E sabe de quem? Do Aurelinho, aquele policial lá do Morro do Engenho, filho do Miguel Carpinteiro. Creio em Deus Padre! Ele não é casado com a Cidinha Verdureira, irmã da Miramar Pata Choca? Puta que pariu, isso vai dar uma puta de uma cagada... Nem quero ver... Vai ser um alvoroço na comunidade. Tá igual aquele ditado: alegria de bombeiro é ver o circo pegar fogo. E tem mais, sabe o Chiquinho, amigo daquele japonês lá do Cantão da Enseada? Sei, sei, aquele barbudinho que não sai do bar do Damião... Aquele mesmo, aliás, os dois não saem do bar, ainda mais agora que só andam em companhia do Duiá e do Ticão, lembra dele? Irmão do Tonho. Ih, aí é que a coisa pega mesmo. Aquilo ali foi amamentado com cachaça, dizem... Ah, eu não duvido, não. Então, o que tem o Chiquinho? Ele tá de olho gordo em cima da japonesinha do amigo... É só o chacareiro sair com a enxada nas costas que Chiquinho vai lá na casa pra tomar um chazinho. E até que a mulher, que mais parece um projeto de gueixa, é atenciosa. E sabe como é que é, né... um chazinho aqui, uma bolachinha acolá, hum, dizem até que a mulher já baixou o quimono... Hum, será? Mas, esse povo fala demais. Onde já se viu? Eu não acredito. Será que o Chiquinho vai fazer isso com o melhor amigo? Com o amigo não, claro, mas com a mulher dele... Você sabe, meu, o que tem de homem sem vergonha por aí não tá escrito. Tens uns até que parecem com aquele bicho esquisito, o suricato, que não sossega o olho, toda hora levanta o pescoço pra enxergar, sabe-se lá o quê. Gente que não pode ver um courinho dando sopa, que já quer, ó, se aconchegar. É, conheço gente assim... Ainda mais... hum. Ainda mais o quê? Ah, sendo assim tão proibido a coisa tem mais sabor, a tentação dobra de peso. Será que é mesmo de atravessado, como dizem? Olha, te garanto que não. Êi, como é que você sabe disso tudo, hein? Não vá me dizer que já... Hum, cala-te boca, cala-te boca... Sabe que outro dia o Menélio e o Alfredo ficaram na porta da igreja e fizeram uma estranha aposta? Toda mulher que passasse por eles, a manifestação era tico, caso eles já tivessem traçado a dita cuja. Então ficou aquele festival tico de lá, tico de lá. Passava uma, tico, dizia um, tico, rebatia o outro. E foi passando aquele montão de mulheres, mocinhas, meninas e os dois disparando tico tico. E lá vinha a Teresa, mulher do coletor. Tico disse um. O outro ficou calado. O quê? A mulher do Honório Coletor? É, foi um dia em que fui levar as compras na casa dela. Ora, ora, quem diria, com aquele ar de mulher séria. Espero que o Honório nunca deixe de ser freguês do mercadinho... Mas você é à toa, hein... Quem fala, você não fica pra trás... traçou até a Auzimara, aquela novinha bonitinha, neta do Zacarias Boiadeiro. E que coisinha, cara... Nem te conto. Ah, eu imagino, o xixi dela deve igual champagne francês. Mas nós dois somos de arrepiar, hein... Porque nesta cidade, tirando minha mãe e minha irmã, nós... Tico, tico, rebateu o outro. É mesmo? É, a amizade dos dois ficou abalada... Você não vai acreditar...
Mas, tem ouvido falar do Patola? Parece que ele quer largar da mulher, lembra dela? A irmã do Tatu, prima do Janjão Caneludo? Ah, claro, filha do pastor Silvino... Essa mesma. Ué, e porque ele quer largar da mulher? Ela é uma mulher direita, trabalhadeira, religiosa, boa mãe... Ah, por isso mesmo. Tem homem que só gosta de mulher ordinária. Ele arranjou uma costureira lá pras bandas do bananal do Ostézio Espoleta. Ah, já sei, não é uma que foi amigada com o Silvestre Caxias, irmão do Catianga? Exatamente, essa mesma. E sabe porque o Silvestre mandou ela embora de casa? Pelo que me contaram, parece que ela adorava sair sozinha á noite, ia pros forrós, enchia a cara, batia coxa com tudo quanto era homem. Você precisava ver o tamanhinho do short que ela usava quando ia pra gafieira. Aliás a palavra short em inglês já quer dizer curto. Agora você imagina um short curto. É, sem dúvida, curteza ao quadrado. E também tem o fato que ele flagrou-a deitada com o Agenor lá no estábulo, no meio do feno. Aliás. Não entendo como é que tem homem que agüenta passivamente uma chifrada dessas. É mesmo, hein... Pra encurtar a história motivo é o que não falta.
E o pior você não sabe. O Maneco Otávio foi fazer um serviço na casa do Deoclécio Chapelão, mais precisamente no guarda-roupa que estava no quarto dele. Acontece que o móvel estava repleto de roupas, claro, ele foi feito pra isso. E a mulher do Chapelão não havia demonstrado boa vontade em esvaziá-lo para que o homem pudesse trabalhar. Foi aí que ele disse: “Se a senhora não tirar a roupa em não posso fazer o serviço”. Foi justamente na hora que o marido chegou. E Maneco foi logo se desculpando: “Você não vai acreditar...”
sexta-feira, 5 de junho de 2009
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