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sábado, 6 de junho de 2009

Conto " MENDIGO EM CADEIRA DE OURO "

MENDIGO EM CADEIRA DE OURO

Conto:

NOZIEL ANTONIO PEDROSO

Outubro de 2008





Isso é o que mais acontece no mundo, se olharmos com mais precisão para o que se passa à nossa volta, se atentarmos para os fatos com bons olhos e captarmos com vontade o que se passa ao nosso redor. O desperdício acontece a cada segundo em toda parte do mundo. E não trata-se apenas de comida no lixo, sobras de frutas, folhas e legumes nos arredores da central de alimentos das grandes capitais. Há vezes, aliás em grande parte das vezes, que locais como esses servem para criar um bom número de famílias. Tem gente que nunca foi à feira comprar produtos da linha hortifruti. Pra quê, se tudo que precisam eles acham no lixo.
E no lixo de políticos a coisa é mais sofisticada. Lá é bem capaz de acharmos filet-mignon, alcaparra, faisão, molho com champgnion, scargot, caviar russo, champagne francês, frango desfiado ao molho de jabuticaba, arroz a grega, e ainda musse de chocolate, fran de maracujá, bem como lagosta e chester defumado. Mas que se há de fazer, né? Eles podem, afinal o que jogam fora não sai do bolso deles, tampouco é conquistado com o suor do rosto. Então é fácil jogar a toalha na lama, se ela não nos pertence, não precisamos lamentar a grande crosta de barro nela impregnada.
Voltando mais no tempo, nossa mente capta mais desperdícios. Em meados dos anos 70 os Presidentes da República (na época ocupava o cargo como chefe de Estado Emílio Garrastazu Médici e logo após, Ernesto Geisel) jogaram fora milhões em “obras” por esse Brasil afora. Havia e há até hoje centenas de grandes construções iniciadas e, em seguida, abandonadas. Algumas viraram matagal ou abrigo de famílias paupérrimas. Quantas e quantas toneladas de cimento, ferro, cal, areia, telha e tijolos não foram pras cucuias? Um dos maiores exemplos de desperdício do dinheiro público e, muito criticado pela imprensa, foi a famigerada Rodovia Transamazônica, que consumiu uma fábula de dinheiro e até hoje é o pesadelo de motoristas que nela necessitam trafegar.
No século XIX quando nossos irmãos negros eram escravizados - e por conta disso sacrificados, barbarizados, seviciados e humilhados - os brancos, com o intuito de castigar ainda mais os cativos, acabaram por contribuir sem querer com a nossa vasta culinária. Sim, porque aos negros eles jogavam - como se fosse migalhas - os pés, rabos e orelhas de porcos. E ainda vísceras e outras partes mais do suíno, considerados de segunda, os chamados refugos. Só que, com esse material o povo escravizado fazia a festa. Inventaram uns temperos sofisticados e batizaram a feijoada, que é um dos grandes pratos típicos do Brasil e conhecido até pelos estrangeiros. A comida de forte sabor e aspecto encorpado, faz a alegria dos gringos e também dos patrícios, afinal a tal iguaria encanta gregos e troianos. E nesse nosso imenso país de carentes e desabrigados, o desperdício continua a todo vapor. No que tange à Justiça, essa é uma das instituições que mais consomem dinheiro do Estado, no que concerne a dispêndio. O que se gasta com um processinho dessa finurinha é até revoltante, pois o desfecho é por demais desprezível, coisa que não dá em nada. É só perda de tempo e despesas desnecessárias. Por exemplo existe um procedimento chamado defesa prévia, em que o advogado somente escreve, aliás repete o mesmo que faz em outros processos, sempre a mesma frase: O réu não praticou os atos descritos na denúncia, o que ficará provado no final da instrução. E isso não importa que o criminoso tenha confessado na fase policial. Mesmo que ele tenha confirmado e que haja provas robustas, o trabalho (de carta marcada) do advogado é escrever a já citada baboseira. O que é pior: o Estado – via população/impostos – é que paga o advogado para um assassino, estuprador, ladrão, pedófilo, estelionatário e toda gama de gente da pior espécie. Que se há de fazer? A lei dos homens é que determina. Roube! Mate! Estupre! O Estado está nessa com você! Pode bolinar crianças à vontade, dirigir bêbado, atropelar gente nos pontos de ônibus. A assistência judiciária gratuita garante sua impunidade. Derrube a mata, trafique animais silvestres, comercialize maconha nas portas das escolas. Dona Justa está contigo e não abre!
E isso é só o começo. Depois que o meliante é julgado e condenado, ele vai para a cadeia. Enquanto a viúva e os filhos do trabalhador que ele matou passam fome, o bandido vai comer quatro vezes ao dia, com cardápio de primeira, dois tipos de carne, três tipos de salada, legumes, grãos, sucos, sobremesas. Após o almoço, se ele assim desejar, pode curtir uma sonequinha ou - se estiver disposto - participar de um bom samba ali mesmo. É só arrumarem uma timba, pandeiro, cavaquinho, reco reco, pronto. Está feita a farra. E se no dia seguinte ele quiser jogar bola, tudo bem. Seja feita a sua vontade! Há presídios até em que os presos fazem cachaça para alegrar os inóspitos visitantes. Existe uma técnica no campo da química, em que é possível extrair álcool do arroz, através de um processo simples de fermentação. É só misturar mais alguns ingredientes e, pronto, há aguardente até para se comercializar ali entre os presos.
Tenho um amigo que diz que a mãe dele (nascida lá por meados dos idos anos 20, mais ou menos) é a típica senhora simples, desprovida de qualquer vaidade e malícia. Ele disse que ela é bem capaz de trocar uma pintura de Pablo Picasso ou Cândido Portinari por uma galinha carijó, de angola. um galo índio ou - ainda - um maço de cheiro verde. O que importa pra ela é o que ela conhece e curte. Fazer-se o quê? Vai que de repente ela não curte Picasso nem Portinari, aliás pode ser até que ela não entenda nada de pintura, ainda mais de gente que morreu há tanto tempo. Se ele não conseguiu vender enquanto vivo, é sinal que não é coisa boa, é de qualidade duvidosa.
Mas desperdício mesmo é o que os parlamentares gastam com cafezinho, fotocópias, secretários, clipes, grampos, papel carta, gasolina e... uma infinidade de coisas mais. Sabemos que a lista é vasta, enorme, a se perder de vista. E o que é mais “engraçado” disso tudo, é que eles tem verba pra tudo. A gente até nem sabe porque eles tem salário se nem precisam utilizá-lo. Se cismarem de fazer mais uma sala, há verba cimento; para ampliar e sofisticar o banheiro verba azulejo, pra limpar o rabo verba papel higiênico; pra festa de aniversário verba bolo, e assim por diante.
Foi exibida, há alguns anos, uma novela na televisão em que uma mulher era candidata a prefeita. Só que a mulher era super qualificada: era formada em tudo quanto era coisa e, de quebra, ainda falava cinco idiomas. Só que... a localidade era por demais atrasada e, se duvidar, até o arco-íris era em preto e branco. Afinal de que adiantaria para aquele povo ignorante ser governada por uma mulher com tais predicados? Isso sim é que é desperdício, é dar cadeira de ouro pra mendigo!

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