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quarta-feira, 18 de março de 2009

Conto "AQUI SE FAZ, AQUI SE PAGA"

AQUI SE FAZ, AQUI SE PAGA

(Noziel Antonio Pedroso)

28 de Julho de 1996

Meados de 1960. Cidadezinha do interior de Minas Gerais. Colégio João de Abreu Salgado. Estudantes do curso primário. Turminhas que se formam, amizades que se entrelaçam, gostos comuns e afins, encontro da patota.
- Êi, Susana, vai ter um bailinho na casa de Adriana. Vamos?
- Que horas?
- Ah, sete da noite...
- O Cardosinho vai?
- Acho que sim... ele não perde uma...
- Ah, então não posso perder...
O bailinho que acontece. Som de Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos e seus contemporâneos, The Beatles. Ensaio de namoro. Beijos roubados. Cuba libre. O mundo acontecendo lá fora. Decretado o Ato Ins­titucional nº 3, nos termos do qual os governadores dos Estados brasileiros serão eleitos por votação do Legislativo; acusado de conspirar con­tra o presidente Mobuto, do Zaire, o ex-primeiro ministro Evariste Kimba é enforcado; a Taça Jules Rimet, roubada antes do inicio da Copa do Mundo, é encontrada por acaso pelo cão Pickles, em um parque público em Londres. E daí? O que importa o que acontece no mundo? Vamos curtir um som legal. Nesse universo de amiguinhos, namoradinhos, um som que era um barato, Lúcia observava a amiga Rute, uma cafuzinha bonitinha e jeitosinha, apesar dos dentes salientes e do cabelo ruim, sempre amarrado, porque era difícil de pentear. Rute, menina pobre e humilde, vivia sempre cercada de atenções, em razão de ser uma pessoa boa, se dava bem com todos. Lúcia, apesar de ostentar uma melhor situação de vida, não tinha o desembaraço e espontaneidade de Rute. Lúcia era filha de professora e de um pequeno fazendeiro. Lúcia se vestia bem, andava com os vestidinhos da moda, causando até inveja em algumas amiguinhas. Rute, tadinha, cabelinho ruim, roupinha surrada, perfume barato, mistral, colônia da contoré. Os garo­tos preferiam a humildade e pobreza de Rute à "riqueza" de Lúcia. E as duas eram amigas.
O bailinho acabou. Vieram outros bailinhos, festinhas de aniversário. Rute, sempre cercada de amiguinhos. Lúcia, quase só num canto da sala. A menina de melhor posição social, começava a nutrir uma inveja secreta pela amiguinha.
- Rute, puxa, eu preciso fazer aquela matéria de História que a pro­fessora pediu, mas eu não sei fazer. Você me empresta seu caderno?
- Claro, Lúcia. Eu pesquisei num trabalho da minha, prima e consegui ­fazer tudo. Se quiser, eu empresto pra você copiar.
- Puxa, você faz isso?
- Espere aqui, vou buscar o caderno. Mas olha, não fala pra ninguém, tá? Vamos fazer de conta que você mesmo fez sozinha... se a professora descobre...
- Nossa, Rute, você é sempre tão boazinha com os outros...
- Ora, Lúcia, acho que a gente deve ajudar sempre os amigos.
Brrrrrr! Isso me dá gastura. Como é que pode? Ser assim tão boazinha?
E o pior é que todo mundo gosta dela. Mas ela é tão pobre, não tem o que comer direito... o que vestir. Já sei, vou dar pra ela. Isso vai deixar ela humilhada.
- Nossa, Lúcia, muito obrigada. Eu estava mesmo precisando de umas roupas. As minhas são tão velhas, que já não da mais para costurar. Essas suas roupas são muito bonitinhas. Muito obrigada mesmo. Vou usar com muito carinho.
Bolas. Ela gostou. Não era pra ela gostar. Era pra ela se sentir ultrajada, diminuída. Meu plano não deu certo. Mas, puxa vida, o trabalho de escola que ela me passou foi tão bem feito. Ti­rei uma boa nota. Se não fosse ela... mas... porque que ela tem que ser tão boazinha? Porque os outros preferem a ela? Ela é tão pobrezinha. E eu? Pago sorvete pras minhas amigas, sempre estou repartindo o meu lanche. Ela, coitada, aposto que nunca viu um pão com presunto. E ainda por cima, preta, de cabelo pixaim, dente pra fora.
- Olha, Rute, trouxe mais umas roupas para você. Sabe, é que meu pai comprou aquele vestido lá da loja do Garcia.
- Nossa, Rute, que bom. Lá só tem vestido caro. Eu nunca que vou poder comprar um. Você sabe, meu pai trabalha na Prefeitura e faz isso daqui para pôr comida em casa. Tem vezes que só comemos mingau.
“Ah, que bom. Então ela confessa que passa fome. Já sei, vou convidá-la para comer lá em casa. Ela vai ficar boba com a quantidade de comida”.
- Sabe, Rute, eu estive pensando, você foi tão boa comigo, me em­prestando o caderno e sempre está me ajudando nas lições. Vamos almoçar lá em casa domingo?
- Verdade? Puxa, que bom. Eu aceito, Lúcia. Estava mesmo querendo conhecer sua casa. Deve ser tão bonita e arrumadinha. Não convido você pra ir à minha, porque você sabe... lá é tão pequeno, minha mãe quase não tem tempo pra arrumar. Eu tenho muitos irmãos pequenos, minha mãe tem que lavar roupa pra fora pra ajudar meu pai...
- Eu sei Rute. Não tem importância, não...
"Ah, agora sim. Vou fazer essa pretinha metida a besta sentir vergo­nha de ser minha amiga. Ela vai ver só".
- Pegue um pouco mais de carne, Rute. Aproveita, que você não está acostumada com isso...
- É verdade, não me lembro qual foi a última vez que eu comi carne lá em casa. Acho que foi no Natal...
- Isso porque foi o prefeito que deu pra vocês...
- Ah, nem sei direito, só sei que comi carne no Natal...
"Caramba, ela não fica constrangida. Nada consegue abalar essa negrinha. Que raiva. Vou apelar".
- Me diz uma coisa, Rute. Seu pai foi escravo?
- Que é isso, Lúcia. Meu pai nasceu em 1930 e a Abolição da Escravidão se deu em 1888. Meu avô, pai do meu pai, já nasceu livre...
- Sabe, que eu tinha me esquecido? Já estudamos isso...
- Agora, meu bisavô foi. Coitado, sofreu tanto ...
- Ah, então já tem alguém da família que foi escravo?
- É, menina, naquele tempo era tão difícil. Minha bisavó, por parte de mãe, era índia. Meu bisavô era escravo. Imagine só...
- Ah, quer dizer que você tem sangue índio também?
- É, de negro e índio... mas eu me orgulho muito disso. Sou negra e não me envergonho disso. Meu pai me ensinou desde que eu era muito pequena, a nos valorizarmos. Eu me sinto forte e em igualdade com qual­quer um.
"Puxa vida, que negrinha de fibra. Consegue sair de todas com cabeça erguida. Não sei mais o que fazer. Mas... puxa, ela é tão minha amiga...
Acabaram-se os bailinhos. Acabou-se o curso primário. Acabou-se a adolescência. Passaram-se os anos. Foi-se com o tempo as festinhas da patota.
- Oi Rute, quanto tempo hein? Como é que você está?
- Lúcia, que saudade... eu estou bem. Trabalho na loja do Marco. Sabe, estou me dando bem. Lá a gente faz muita amizade. "Não acredito. Ela continua se dando bem. Tenho que dar um jeito".
- Valquíria, preciso te falar uma coisa. Olha, eu não queria falar, mas, você sabe né, eu sou muita amiga da Rute...
- Fala, o que houve?
- Ela anda espalhando por aí que você...
- O quê?
- Te digo mais... ela... blá blá, blá...
- Ah, mas se eu pego a Rute...
- Bem, já que estou contando vou contar tudo. Ela... tititi, tereré, tereré, patati, patatá...
- Quem diria, hein... Rute, com aquele jeito de boazinha...
- É, conseguiu enganar. todo mundo...
"Ah, agora sim. Quero ver Rute se sair dessa. Fiz a cabeça da Valquí­ria contra ela".
- Rute, sua vaca, não sabia que você era tão baixa...
- Uai, por que? Que aconteceu?
- Ainda bem que a Lúcia me abriu os olhos, sua traidora...
- Pera aí, não sei do que você está falando ...
- Não sabe, é? Sua sem-vergonha, amiga falsa...
O tempo passando. As coisas acontecendo. Começa a fun­cionar em são Paulo o metrô, sete quilômetros da linha norte-sul. Nos States o brasileiro Emerson Fittipaldi vence pela segunda vez o Campeo­nato de Fórmula 1. O Presidente Ernesto Geisel sanciona a lei que de­termina a fusão dos Estados de Guanabara e Rio de Janeiro. E Rute, que decepção. Lúcia era minha melhor amiga. Porque ela fez isso? Nunca fiz nada pra ela. Mais anos se passam. O mundo acontecendo em notícias. Fa­náticos matam Anwar Sadat. Casamento de Príncipe Charles e Lady Diana mobiliza o mundo. O Presidente Figueiredo é operado às pressas em Cle­veland. É assassinado a tiros, dentro do seu carro, no centro do Rio de Janeiro, o famoso ex-policial Mariel Moryscotte.
- Sabe, a Rute está namorando sério. Acho que ela vai se casar...
- Verdade? Aposto que é com um preto pinguço e mulherengo.
- Não, pelo contrário.É um rapaz branco, trabalha numa grande empresa, ganha muito bem e, parece que ele não é daqui!
- Ah, não é possível. Depois de tudo ela ainda conseguiu se dar bem na vida? Que injustiça... Aquela negrinha, parente de preto e de índio... On­de já se viu?
A ação implacável do tempo continuava a todo vapor, levando para trás lembranças, casas, árvores e ventos. E Lúcia, agora amasiada. Esperando um filho. E o amásio?
- Você viu a Lúcia? Tão cheia de coisas, tão segura de si... acabou se amigando com o Lico, aquele negrinho sem-vergonha, maconheiro e pinguço.
- Não me diga! O filho do Tião Guarda?
- É, aquele mesmo ...
- Nossa, coitada da Lúcia. Me lembro que ela era muito amiga da Rute. Nossa, aquela sim é que era boazinha...
- Se deu bem na vida... casou-se com um rapaz muito bom. Mora numa ci­dade lá em São Paulo, tem casa própria e tudo o mais...
- Pena que ela e Lúcia ficaram inimigas...
- Cá entre nos, acho que a Lúcia inventou tudo aquilo. Não é possível que Rute fizesse tudo aquilo que ela falou...
- É o que todo mundo acha!
Meados dos anos 90. Havia se passado quase trinta anos que Lúcia e Rute haviam se conhecido. Rute, agora estava muito bem. Foi passar férias na casa dos pais. Estava formosa, esbanjando saúde e disposição. Num parque, em que elas se encontravam quando crianças, Rute estava levando uma de suas sobrinhas para passear. Sentou-se em um dos bancos para observar as peripécias da sobrinha ainda infante. A seu lado, uma mulher gorda, dentes cariados, pele manchada, cabelos opacos e sem brilho, ostentando um ar de desolação. Estampava no rosto as marcas dos anos, ainda com resquícios de hematomas pelo rosto.
- Oi ...
- Oi ...eu a conheço?
- Você é a Rute. Não mudou nada nesses anos todos...
- Ué, e você quem é?
- Sabe... você não reconheceu, mas você tem razão. Estou mesmo muito mudada... sou a Lúcia...
- Nossa, não reconheci mesmo... Lúcia! Que aconteceu com você? Me dê um abraço. Não a vejo há décadas...
- É, todos falam, estou acabada, né? Temos a mesma idade. Você está bo­nita, viçosa, bem vestida...
- É que tive sorte, me dei bem na vida...
- Já ouvi falar muito de você... Sabe, Rute, preciso te confessar uma coisa... Há anos que eu carrego comigo esse remorso... Eu preciso te fa­lar...
- Falar o que, Lúcia? Não estou entendendo...
- Sabe, Rute, é difícil prá mim admitir, mas se passou tanto tempo que hoje não me importo mais...
- Nossa, Lucia, você está me deixando curiosa... o que pode ser?
- Sabe, Rute, eu sempre tive inveja de você ...
- O QUÊ? DE MIM? assusta-se Rute.
- É isso mesmo. De você...
- Mas porque? Você sempre teve muito mais do que eu...
- É, por isso mesmo. Eu não conseguia reunir as pessoas perto de mim como você fazia...
- Mas, Lúcia, que bobagem... as pessoas, os colegas gostavam de mim pelo que eu era, naturalmente...
- É, eu me achava melhor que você.... e no entanto ...
- Mas... Lúcia, nunca que eu imaginaria uma coisa dessa...
- Sabe aquela fofoca que eu contei pra Valquíria? Eu confesso Rute, eu inventei tudo aquilo...
- Nossa, Lúcia. Porque fez aquilo? Eu perdi quase todas as minhas amizades com aquelas fofocas...
- Talvez não seja tarde para você me perdoar...
- Olha, Lúcia, eu não guardo rancor. Hoje eu estou muito bem na vida!
- Como está seu casamento?
- Tudo bem, às mil maravilhas, meu marido é muito bom pra mim, me trata como rainha... estamos casados há quase dez anos...
- Nossa, Rute, que bom... sinceramente, hoje fico contente por você, justo eu, que tive tanta inveja de você ...
- E você?
- Ah, é como você já sabe... me amiguei com o Lico, filho de Tião Guarda... Já imaginou... eu que sempre interiormente desprezei você por ser escura... Lico é muito mais escuro que você... e o que é pior, Rute... bebe, é um sem-vergonha, mulherengo, me bate...
- Nossa, Lúcia. Se antes você tinha inveja de mim e hoje reconhece isso, hoje eu não posso deixar de dizer, sem maldade ou com desejo de te humilhar, tenho pena de você. Jamais imaginei na vida que um dia iria acontecer isso...
- Nossa, Rute, como essa vida dá voltas, não é mesmo? Hoje você tem tudo aquilo que eu pensava conseguir na vida e, eu, que sempre desejei pra você o que sou hoje... Os papéis se inverteram...
-Tia, tia ...
- Lúcia, preciso ir. Olha, fiquei realmente contente em revê-la e, mais contente ainda, por você ter reconhecido seu erro... mas acho que é um pouco tarde para repararmos isso... tudo bem, perdôo você, mas a própria vida te ensinou que a inveja é o mais pobre dos sentimentos e tudo que se deseja de mal para alguém que estimamos, acaba por voltar pra nós mesmos. Não perdemos nada na vida por sermos bons, Lúcia ... acredito que você já percebeu isso! Sempre gostei de você e nunca desejei qualquer mal pra você, mas a vida se encarregou de dar a cada uma de nós o destino que merecemos...
- É... estou conformada... aqui se faz, aqui se paga. Ainda bem que consegui lhe falar, senão iria morrer com esse peso na consciência...
- Adeus, Lúcia...
- Até breve, Rute!

Fotos











domingo, 15 de março de 2009

Conto "QUANDO MEUS FILHOS ERAM PEQUENOS '

QUANDO MEUS FILHOS ERAM PEQUENOS

Conto:

NOZIEL ANTONIO PEDROSO

Agosto de 2007

Lembro-me como se fosse hoje. Estávamos ainda a tilintar nossas taças, buscando no ar a renovação da esperança, o êxtase, a alegria imensurável da alma passeando pelo paraíso, a comemorarmos a chegada do novo. Ainda sou capaz de ver brilhos de regozijo a se estabelecerem nos quatro cantos da casa. Minha visão alcança ainda a visualização do mosaico de pedras preciosas a espalhar seu brilho multicor, meus ouvidos captam ainda o som de violinos. Recordo-me, outrossim, com ímpeto sagaz, que achava pouco e bom passar noites quase em claro, fazendo compressas e acompanhando a languidez daquele minúsculo ser, ardendo em febre. Não faz muito tempo, me parece, que o pequeno, entregue aos folguedos, esfolasse o joelho na pedra, sentindo na pele a aspereza e jeito brusco desse nosso mundo tosco, que dele faria parte. Pouco tempo decorreu, quiçá, entre a primeira palavra e a primeira decepção que tive, com aquele ser que habitou minhas entranhas. Quantas vezes corri com o cotidiano, atropelando as atribulações do dia-a-dia para poder dar um pouco mais de atenção àquele que era então a pessoa mais importante e frágil na minha vida. Seguramente aquele tempo era bonito, e mais bonito se tornava ainda quando aquele universo pueril fazia-se presente no tempo e no espaço.
Nunca me esqueci daquela linda manhã quando recebi o primeiro presente. Era um desenho confuso, com traços imprecisos, mais suscitando dúvida que esclarecimento. 0 que realmente seria aquilo? Mas o que importava, se nada parecia? Eu sabia, fôra feito com esmero, com cuidado, num lampejo de fantasia, com precisão impregnada de magia.

Me vem à mente, com total nitidez, que eu deitava-me nas tardes fagueiras a brincar com a brisa, a acariciar as nuvens, qual plumas vagantes que se desfaziam, lépidas, em meus devaneios. Tudo, meu Deus, era tão bom, que eu nem me dava conta que nessa nossa vida terrena, a tragédia, às vezes, anda de mãos dadas e em cumplicidade com a euforia, arrasando com a festa. O fadário, em forma de monstro, não nos poupa de infortúnios, que fazem-nos experimentar uma sensação de horror, sinistro, solidão, resignação, frente a situações que nos fogem das mãos. Não era capaz de imaginar que a dor mais pungente, a pontada mais lancinante, a aflição mais desoladora, estava a me rondar, traiçoeira, pronta a me dar seu bote fatal. Não fazia idéia do quão eu nunca estivera preparada para os solavancos que a vida nos dá, para absorver as agruras que o destino, às vezes, nos reserva, sem piedade. Para mim só existia o brilho do sol, o arco-íris e quem sabe, um pote de felicidade do lado extremo.

Jamais me apeguei a tão tenra e doce recordação quanto aos tempos em que meus filhos eram crianças, puras, qual anjinhos da guarda a enfeitar meus dias. Parecia que toda a energia do mundo estava em minhas veias, parecia que todas as certezas do planeta adentravam minha alma, parecia que todas as árvores do mundo exalavam o mais puro oxigênio que enchiam meus pulmões. Achava que a soma de todos os medos era nada, comparada à minha inclusão na roda viva da dança da exuberância. Eu vivia tão contente, que acenava para o sol e sorria para a lua.
No entanto, quando todas as estrelas serenas pareciam derramar seu brilho sobre a minha pele, quando os mistérios da noite faziam-se longínquos a ecoar estranhos ruídos, aquele acontecimento veio endoidecer todo meu ser. Eu não podia acreditar que meu mundo desmoronara, que aquele nefasto episódio veio a esmagar-me a essência, a torturar-me em crescendo, a estraçalhar-me o âmago, a arrebatar-me a paz e atirar-me à medonha masmorra. Nunca, até então, havia me sentido tão só, tão perdida e desprotegida, tão entregue à inércia e ao destino sem futuro. Perdão, meu Pai, cheguei até a pensar, se não seria melhor eu ter partido antes desse episódio que, seguramente, foi o mais fulminante impacto que atingiu-me de forma avassaladora até o útero. Não, jamais eu seria a mesma, após esse incidente devastador, que abalou-me as estruturas como um tufão em tempestade, arrasando tudo pelo caminho.

Agora sento-me nas tardes vazias, a murmurar de saudade, já sem a cálida esperança de restabelecer contato com a euforia. Nunca havia notado sequer o significado da palavra saudade, até mesmo na canção mais triste já composta por Chico Buarque, PEDAÇO DE MIM, que, em versos sofridos, dispara: “Ó pedaço de mim, ó metade arrancada de mim, leva o vulto teu, que a saudade ao revés de um parto, a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”
Apesar do decurso de alguns anos, já não mais acredito na plena alegria, já não conto mais com as manhãs serenas, já não mais dou crédito às promessas do sol, já não mais vejo o desfecho do dia, pois todo sofrimento sugou-me com sofreguidão as forças e a coragem. Não obstante eu tenha caminhado pelas ruas do inferno, nosso Pai Eterno, pegou-me em Suas mãos e assoprou as feridas. Ainda bem. Foi o que me salvou de ter caído para sempre num mar de tristeza e solidão.
Aliás, a duras penas recuperei - por assim dizer - minha coragem, sim, para observar de longe o raiar de um novo dia, de ver findar-se a noite, mas já não mais significam para mim a mesma coisa QUANDO MEUS FILHOS ERAM PEQUENOS.

E ter ciência que isso nunca mais se repetirá, faz-me amargar uma espécie de desilusão e derrota. Porém, sinto que estou sendo afagada pelas Mãos Divinas, o alento mais imprescindível, com a qual fui privilegiada. Mas... a vida continua. Tem que continuar. Há outros seres, no entanto, que amenizaram a dor pela partida de um ser insubstituível... Todavia, transcorram-se dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios, bilênios, trilênios, nada aplacará a dor que sinto desde aquele dia, que preferia nunca ter vivenciado.

Desde aquele 24 de setembro, que as manhãs de primavera não cintilam tanto quanto antes. Nem a doce brisa, em mil anos, me trará de volta a alegria perdida, tampouco a exuberância e perfume das flores me fará regressar ao porto da esperança.



Conto escrito especialmente para minha amiga MARIA DAS DORES PRENZIER OLIVEIRA, referente ao filho Ewald, nascido em 13 de Junho de 1985 e que teve passamento em 24 de setembro de 2004.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Biografia do escritor Noziel A. Pedroso da Cidade de Registro-SP



Foto de Noziel Antonio Pedroso

Contiuando a escrever sobre os escritores do Vale do Ribeira ,hoje vamos conhecer um pouco mais sobre este grande escritor e compositor Noziel Antonio Pedroso da Cidade de Registro-SP no Vale do Ribeira.

Noziel nasceu em Pariquera-açú em 23 de dezembro de 1957,(portanto com 53 anos completos),quinto filho de uma prole de oito irmãos.passou a infancia nos sapezais ás margens da rodovia BR 116,nas proximidades do posto itatins,caçando passarinhos e brincando de bola.
Aos vinte anos foi morar e trabalhar em Três Pontas ,Minas Gerais,Em 1982 ( aos 25 anos ) fez a primeira sinopse de um livro ,que foi lançado em 08 de Outubro de 1993( O Baú, uma trama sobrenatural que discorre sobre um velho baú que continha uma maldição gerada atravéz de várias descendências).Esse trabalho foi feito de forma artesanal e com tiragem de apenas 115 exemplares.Foi nessa época que fez também seu primeiro poema: Jesus Cristo ,10 estrofes,de 6 linhas cada .




Foto do livro "O Baú"

Em agosto de 1983 foi inscrito na Sociedade de Compositores e Autores Musicais,São Paulo-SP.
De 1986 a 1990 Noziel trabalhou como redator publicitário no jornal A Tribuna do Ribeira onde publicou centenas de textos e matérias publicitárias,fazendo,inclusive,artigos sobre música popular,que é o seu forte.

Após o lançamento do primeiro livro ,o artista gráfico João Xavier de Campos (autor da capa e ilustrações) sugeriu ao escritor algo sobre os personagens de registro,sugestão essa logo aceita pelo autor.Em fevereiro de 1994 Noziel saiu em campo colhendo histórias pitorescas para elaboração de seu segundo trabalho nas letras.Todo material apurado rendeu 25 capítulos,até o presente momento,livro mais popular: Registro,histórias,boatos,causos, mitos e lendas de um povo,agora relançado pela terceira vez.. A primeira edição saiu em abril de1997, a segunda em agosto de 1998 e, essa ultima,em fevereiro de 2006.



1º edição do Livro Registro, Histórias, Boatos, Causos, Mitos e Lendas de um Povo ,foi em abril de 1997

2º edição do livro Registro, Histórias, Boatos, Causos, Mitos e Lendas de um Povo ,foi em agosto de 1998




3º edição do livro Registro, Histórias, Boatos,Causos, Mitos e Lendas de um Povo ,foi em fevereiro de 2006

O autor já tem prontos quatro trabalhos na área literária: O ALGOZ E A SUBMISSA,(ficção:a história de uma professora que se envolve com um traficante de drogas,IEIÉ EM PROSA EVERSO (referente a um irmão,que se inicia nas drogas aos 17 anos e morre aos 34), RECANTO DOS INOCENTES (sobre os tempos em que morou numa república, em TRES PONTAS) e CONTOS PRIMEIROS E ÚLTIMOS(uma compilação de mais de 20 contos,a maioria escrita em 2007).

O segundo livro do autor foi além dos limites de registro.Há exemplares espalhados por diversas cidades e estados, inclusive em outros paises como no JAPÃO E ESTADOS UNIDOS (MIAMI). Foi remetido,ainda, a tres artistas televisivo: JO SOARES(1997), GLÓRIA PERES e ROLANDO BOLDRIN(2000).

E uma canção do artista (ciuniverso) foi parar na ALEMANHA. É que a cantora homenagiada com a canção(CIONE DE FÁTIMA BRAS TOSTES,que o autor conheceu em TRES PONTAS-MG) mora nessa localidade.Não obstante não ter, ainda,lançado seus outros quatro livros, Noziel tem outros trabalhos rascunhados:samantha,solo infausto,primavera em cantilena,manto de púrpura e seguidores de caim.

EM 1998 trabalhou como colaborador no Jornal o Regional (registro-sp) escrevendo semanalmente uma coluna intitulada soltando um verbo e se identificava apenas como pan( as iniciais do autor, de trás para frente),onde discorria,de forma ironica,sobre assuntos em efervescencia, com títulos curiosos e intrigantes como VAI UM FIGADO ESPERTO AÍ? sobre a doção de orgãos e UM SOLUÇAR DE DOR,,sobre o feriado de 13 de maio.




Foto da Revista Cidade

Noziel foi tema de matéria no jornal Santista Expresso Popular em abril de 2006 .Há alguns anos foi mencionado ainda no Jornal Diário de São Paulo ,na revista Viva e no periódico A Estância,de Praia Grande.Em agosto de 2008 foi abordado,ainda,na Revista Cidade,editada em Registro-SP.




O Escritor Noziel é também Compositor e letrista,autor de 24 canções (a metade com partituras registradas na fundação Biblioteca Nacional,Rio de Janeiro-RJ). Tem três canções registradas no disco Sem preconceitos, produzido pela Associação dos Negros de Registro-SP, am dezembro de 1990.

O Blog
"Curiosidades do Vale do Ribeira e suas Cidades" se sente honrrado em poder escrever sobre este grande escritor e compositor Noziel Antonio Pedroso .

quem quiser adquirir o livro é só entrarem contato com próprio Noziel pelo fone :

(013) 38216042